[Ubuntu-BR] [OFF-TOPIC] Você é Hands On?

Darlan Dapper darlan.dapper em gmail.com
Sexta Maio 28 13:34:16 UTC 2010


Amigos texto, muito bom!

*Você é Hands On?*



Vi um anúncio de emprego. A vaga era de Gestor de Atendimento Interno, nome
que agora se dá à Seção de Serviços Gerais. E a empresa exigia que os
interessados possuíssem - sem contar a formação superior - liderança,
criatividade, energia, ambição, conhecimentos de informática, fluência em
inglês e não bastasse tudo isso, ainda fossem HANDS ON. Para o felizardo que
conseguisse convencer o entrevistador de que possuía essa variada gama de
habilidades, o salário era um assombro: 800 reais. Ou seja, um pitico.

Não que esse fosse algum exemplo fora da realidade. Ao contrário, é quase o
paradigma dos anúncios de emprego. A abundância de candidatos permite que as
empresas levantem cada vez mais a altura da barra que o postulante terá de
saltar para ser admitido.

E muitos, de fato, saltam. E se empolgam. E aí vêm as agruras da
super-qualificação, que é uma espécie do lado avesso do efeito pitico...



Vamos supor que, após uma duríssima competição com outros candidatos tão bem
preparados quanto ela, a Fabiana conseguisse ser admitida como gestora de
atendimento interno.. E um de seus primeiros clientes fosse o seu Borges,
Gerente da Contabilidade.



Seu Borges:

-- Fabiana, eu quero três cópias deste relatório.

Fabiana:

-- In a hurry!

Seu Borges:

-- Saúde.

Fabiana:

-- Não, Seu Borges, isso quer dizer "bem rapidinho". É que eu tenho fluência
em inglês. Aliás, desculpe perguntar, mas por que a empresa exige fluência
em inglês se aqui só se fala português?

Seu Borges:

-- E eu sei lá? Dá para você tirar logo as cópias?

Fabiana:

-- O senhor não prefere que eu digitalize o relatório? Porque eu tenho
profundos conhecimentos de informática.

Seu Borges:

-- Não, não.. Cópias normais mesmo.

Fabiana:

-- Certo. Mas eu não poderia deixar de mencionar minha criatividade. Eu já
comecei a desenvolver um projeto pessoal visando eliminar 30% das cópias que
tiramos.

Seu Borges:

-- Fabiana, desse jeito não vai dar!

Fabiana:

-- E eu não sei? Preciso urgentemente de uma auxiliar.

Seu Borges:

-- Como assim?

Fabiana:

-- É que eu sou líder, e não tenho ninguém para liderar. E considero isso um
desperdício do meu potencial energético.

Seu Borges:

-- Olha, neste momento, eu só preciso das três cópias.

Fabiana:

-- Com certeza. Mas antes vamos discutir meu futuro...

Seu Borges:

-- Futuro? Que futuro?

Fabiana:

-- É que eu sou ambiciosa. Já faz dois dias que eu estou aqui e ainda não
aconteceu nada.

Seu Borges:

-- Fabiana, eu estou aqui há 18 anos e também não me aconteceu nada!

Fabiana:

-- Sei. Mas o senhor é hands on?

Seu Borges:

-- Hã?

Fabiana:

-- Hands on....Mão na massa.

Seu Borges:

-- Claro que sou!

Fabiana:

-- Então o senhor mesmo tira as cópias. E agora com licença que eu vou sair
por aí explorando minhas potencialidades. Foi o que me prometeram quando eu
fui contratada.



Então, o mercado de trabalho está ficando dividido em duas facções:

1 - Uma, cada vez maior, é a dos que não conseguem boas vagas porque não têm
as qualificações requeridas.

2 - E o outro grupo, pequeno, mas crescente, é o dos que são admitidos
porque possuem todas as competências exigidas nos anúncios, mas não poderão
usar nem metade delas, porque, no fundo, a função não precisava delas.

Alguém ponderará - com justa razão - que a empresa está de olho no longo
prazo: sendo portador de tantos talentos, o funcionário poderá ir sendo
preparado para assumir responsabilidades cada vez maiores.

Em uma empresa em que trabalhei, nós caímos nessa armadilha. Admitimos um
montão de gente super-qualificada. E as conversas ficaram de tão alto nível
que um visitante desavisado confundiria nossa salinha do café com a Fundação
Alfred Nobel.

Pessoas super-qualificadas não resolvem simples problemas!

Um dia um grupo de marketing e finanças foi visitar uma de nossas fábricas e
no meio da estrada, a van da empresa pifou. Como isso foi antes do

advento do milagre do celular, o jeito era confiar no especialista, o Cleto,
motorista da van. E aí todos descobriram que o Cleto falava inglês, tinha
informática e energia e criatividade e estava fazendo pós-graduação.. ... só
que não sabia nem abrir o capô. Duas horas depois, quando o pessoal ainda
estava tentando destrinchar o manual do proprietário, passou um sujeito de
bicicleta. Para horror de todos, ele falava "nóis vai" e coisas do gênero.
Mas, em 2 minutos, para espanto geral, botou a van para funcionar. Deram-lhe
uns trocados, e ele foi embora feliz da vida.

Aquele ciclista anônimo era o protótipo do funcionário para quem as Empresas
modernas torcem o nariz: O QUE É CAPAZ DE RESOLVER, MAS NÃO DE IMPRESSIONAR.

Por Max Gehringer.

Colunista da Revista EXAME e apresentador do Fantástico.


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Darlan Dapper
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