[Ubuntu-BR] Migração de Workstations para Linux
José Geraldo Gouvêa
jggouvea em gmail.com
Quinta Novembro 30 00:52:19 UTC 2006
Em Qua, 2006-11-29 às 11:11 -0200, Edgar Gabaldi escreveu:
> Saudações Lista,
>
> Na empresa onde eu trabalho, temos o seguinte quadro:
>
> - 4 Servidores (Linux)
> - 45 Estações de trabalho (Windows XP)
>
> Acredito que várias pessoas nessa lista tem uma realidade parecida com essa.
> Estou pensando em migrar as estações de trabalho, gradativamente para Linux.
> Só que tenho alguns problemas. Como aplicações for windows.
>
> Bom, eu sei que existe o Wine que faz a emulação da plataforma Win32, alguem
> aqui já teve problema com o Wine? Recomendam? Funciona genericamente para
> várias aplicações?
>
> Alguem na Lista já fez migração parecida? Alguma dificuldade (Alem da
> aceitação dos usuários)?
Posso te passar um breve relato de uma das maiores experiências de
migração para Linux de todo o mundo, que eu estou testemunhando: a do
Banco do Brasil.
Eles começaram instalando OpenOffice em todos os terminais e removendo o
MS Office. Além disso
orientaram todos os funcionários a migrarem seu trabalho do Lotus
SmartSuite e do IBM Works (dois pacotes jurássicos que o banco ainda
usava). Esta parte foi meia-boca pois os gerentes tinham permissão para
habilitar algumas máquinas com Word e quem queria usar Word ia nessas
máquinas e continuava usando --- mesmo sabendo que o Word só estaria
disponível por mais alguns meses (sim, o ser humano médio é uma besta).
Também teve muita gente que continuou usando SmartSuite e Works e perdeu
todos os seus documentos no final da migração (prepare-se para algo do
tipo).
Depois migraram os servidores, silenciosamente.
Depois que os servidores estavam migrados (e funcionando), realizaram
uma primeira fase de migração, para testes, em máquinas de uso mais
restrito (terminais de caixa).
Há algumas semanas começaram a desativar o MS Office nas máquinas que
ainda rodam Windows.
Havia alguns aplicativos que eram customizados e feitos em REXX (uma
interface do OS/2). Eles tiveram que ser praticamente reescritos para
Linux, usando uma biblioteca REXX para Unix (que eu não sei o nome pois
as restrições do sistema não nos deixam "fuçar" muito).
Havia alguns aplicativos que eram feitos em uma versão pré-histórica de
Java que rodava no OS/2 (Terminais de Uso de Caixa e Administrativo).
Estes foram portados para Java 1.4 padrão da Sun.
Nada foi feito por emulação. Tudo foi feito substituindo os aplicativos
por outros disponíveis no Linux. No caso dos aplicativos cujos
equivalentes são muito diferentes o Banco simplesmente desencorajou seu
uso.
Houve uma preocupação de tornar o ambiente o mais familiar possível:
usam KDE com kicker simples, e poucos programas no Menu. Até o
posicionamento dos ícones na área de trabalho é fixo.
Foi aberto um canal interativo para críticas e sugestões (fórum). Esse
fórum passou a ser monitorado e os comentários desestabilizadors foram
moderados com rigor.
As sugestões estão sendo, na medida do possível, implementadas e isso
está sendo anunciado como uma vantagem do Linux: "Com o Linux você pode
facilmente adaptar o ambiente de acordo com a necessidade".
Durante a fase de transição o formato padrão dos documentos no Banco
fica sendo ainda o MS Word 95 (para compatibilidade com o SmartSuite 97
e com o MS Word). Após o término da migração é provável que o Banco mude
tudo para OpenDocument.
Houve, é claro, resistência. Desde os que acharam o Linux "feio" até os
que juraram que nunca vão conseguir aprender a usar outro "editor de
texto" (sic) além do Word. Mas as reclamações são tratadas de modo muito
simples: são ignoradas. A empresa tem uma política de redução de custos
e de independência tecnológica que não será detida por alguns
funcionários. Acredito que seja mais fácil remover os funcionários
reclamões do que remover o Linux (dado o grau de compromentimento que
está sendo demonstrado).
Resumindo: se você quer migrar para Linux sem pisar no pé de ninguém,
desista: o sonho maior da maioria dos seres humanos é viver até 100 anos
sem ter que aprender nada. O novo assusta. E quanto mais as pessoas
acham que sabem, mais defeitos elas põem no novo.
Agora falemos do Wine.
Ele está bastante estável (Versão 0.96). Tenho usado regularmente para
rodar vários tipos de programas e de modo geral ele tem executado quase
todos, menos aqueles que se baseiam em DLLS muito especificas (pois as
DLLS que ele usa são as padrão do sistema, ele ignora por padrão as DLL
em C:\Windows\System32).
Não confie naquela AppDB do Wine pois há milhares de programas lá fora
que funcionam e não estão na lista porque ninguém pôs ou porque ninguém
testou (mas eles não têm porque não funcionar).
Atualmente o Wine já tem até integração com o Linux. "Meus Documentos"
do Windows, por ex, aponta para "~/".
Recomendo que você instale em um computador para teste, de preferência
longe das pessoas, em uma sala trancada ou até fora da empresa. Durante
a fase de testes o Linux deve ficar oculto: só deixe ele ser visto
quando estiver funcionando. Não deixe as pessoas terem desculpas para
"bater" no Linux antes de ele estar pronto para impressionar.
Principalemnte não deixe elas ficarem envenenando o seu chefe dizendo
que "nada está funcionando" até ele mandar você desistir disso e comprar
40 licenças do Vista.
Boa parte do sucesso de uma migração depende mais do "tato" na hora de
administrar o processo do que da qualidade dos programas.
Principalmente, comece a educar o usuário antes de começar a migrar.
Deixe todos saberem dos problemas antes de apresentar o Linux como
solução. E acabe com a dependência em programas que não podem ser
substituídos ou rodar via Wine.
Espero que meu relato tenha algum insight importante para você e para
outros que o lerem.
--
José Geraldo Gouvêa <jggouvea em gmail.com>
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