[Ubuntu-PT 10504] Re: DRM no firefox

Diogo Constantino diogoconstantino sapo.pt
Sábado, 17 de Maio de 2014 - 19:55:59 UTC


Acho que há aqui um problema de compreensão sobre o que são algumas 
coisas e sobre o que eu estou a querer comunicar. Também me parece que 
não percebes que é justo que as pessoas que conhecem os valores das 
outras pessoas/entidades, esperam de forma justa que elas sejam 
coerentes com esses valores.


Software Livre, não é respeito pela liberdade. Software Livre tem uma 
definição.

Software Livre é todo o software em relação ao qual se tenham as 
seguintes 4 liberdades, sem que para isso 0seja necessária qualquer 
autorização extra-ordinária:
* executar o software para qualquer fim;
* estudar o software (acesso ao código-fonte é uma pré-condição para que 
a liberdade exista de facto);
* modificar o software;
* redistribuir o software com, ou sem modificações;


Para que fique bem claro:
Eu não estou a dizer que um utilizador, seja ele quem for, pode, ou não 
pode, fazer seja o que for.

O que eu estou a dizer é que a Mozilla, nasceu e tem vivido de acordo 
com uma filosofia. Essa filosofia é a de uma web livre, uma web 
inovadora e colaborativa. Desde o início, que se fixou também a 
estratégia para garantir os ideais era a de desenvolvimento de software 
que seja Software Livre e de desenvolvimento, adopção e promoção de 
normas que possam ser livremente adoptadas por todos, sem nenhum tipo de 
restrição legal, comercial, ou contratual. Graças a isto a Mozilla 
juntou à sua volta um conjunto vasto de pessoas que acreditam nestes 
ideais e nesta estratégia, e que foram e são de facto o motor dos 
projectos. Também juntou à sua volta um conjunto de utilizadores fieis, 
que confiam na Mozilla para seguir a estratégia e os ideais que definem 
a comunidade.

Esta expectativa de que a Mozilla se mantenha fiel ao que a criou e 
susteve. Não só é justa, como também é equilibrada. Foi a comunidade que 
criou todo este movimento que carregou e carrega a Mozilla às costas. 
Foi a comunidade que:
* desde o inicio desenvolveu o software;
* testou o software;
* divulgou o software, não só na web, como nos media tradicionais (até 
chegámos a pagar anúncios em jornais, como o NY Times);
* traduziu e localizou o software;
* reportou bugs;
* etc...

A Mozilla foi criada pela comunidade e só é possível com a comunidade.
Convém não esquecer de onde vêm a Mozilla. A Mozilla foi a comunidade 
que se criou à volta do Mozilla Navigator. O Mozilla Navigator foi 
criado quando a Netscape concedeu que sozinha não conseguia derrotar a 
Micro$oft, e que não chegava estar sozinha, que porque a micro$oft já 
tinha aprisionado a maior parte da WWW, com as suas tecnologias 
proprietárias, fechadas e as suas extensões proprietárias às normas da 
WWW. Assim a Netscape achou que deveria ser a comunidade de resistentes 
a estas práticas que deveria liderar o esforço de tomar de volta a web, 
para que ela possa ser livre. E foram esses os ideais e essa a 
estratégia que permitiram que hoje, não utilizemos apenas window$ e 
internet exploder para poder aceder à WWW.


Lembro-me que, até bem mais de meio da década passada, chamavam-me 
fanático e extremista. De dizerem que eu não vivia no mundo real. Só 
porque eu defendia que o desenvolvimento web deveria ser feito para 
normas livres e abertas, e que se deveria boicotar o ie. Porquê as 
normas abertas e livres? Porque só assim é possível a qualquer um 
adoptar as normas sem quaisquer barreiras artificiais. Porquê boicotar o 
ie? Porque era um browser que tinha problemas graves de segurança que 
não iriam ser resolvidos pela m$ (porque ela não tinha competição 
ameaçadora e por consequente não iria sentir pressão para fazer melhor), 
mas que pior ainda, era um browser que implementava a estratégia de 
"lock-in" da micro$oft, que tornava um esforço quase impossível migrar 
para qualquer solução que não fosse da m$, quer do lado do cliente que 
aplicações web complexas do lado do servidor.

Adivinha lá o que é que acabou por acontecer?

Tenho a certeza que não foi só por causa de mim, mas a muitos outros 
como eu, que foram surgindo. Mas aconteceu um boicote cada vez maior ao 
ie e que foi isso e também algumas consciências mais abertas, que 
levaram a que se passa-se a desenvolver essencialmente tendo em conta as 
normas (quer as aplicações web, quer os browsers e outros software).


Mas será que houve outro caminho que tenha funcionado?
Antes da m$ perder o controlo da WWW, surgiram outros browsers, 
notavelmente o Konqueror e o Opera. Que é feito deles?

O Opera que não seguiu o caminho do Software Livre, mas que fazia um 
esforço igualmente grande e meritório em prol das normas livres e 
abertas, quase que desapareceu e agora até teve mesmo que mudar de 
engine. Ou seja, sozinho e proprietário também não foi a lado nenhum.

O Konqueror também é ele agora praticamente irrelevante, mas foi dele 
que saiu o KHTML e o KJS, os motores a partir do quais foram criados o 
pela Webkit, que são usados no Safari e o Chrome. Por isso apesar de o 
Konqueror também não ter sido um sucesso foi dele que saiu o segundo 
maior sucesso (o Chrome). O Konqueror apesar de ter tido alguma 
popularidade, nunca teve tanta popularidade como o Firefox e foi 
essencialmente o facto de a comunidade Mozilla ter aberto mentalidades e 
criado consciências, que permitiu que se desse atenção ao konqueror e 
também era com o Firefox que o Konqueror competia e em ideais 
filosóficos idênticos que boa parte da sua comunidade se revia. Ou seja 
de várias formas a comunidade Mozilla também foi o que estimulou a 
criação e desenvolvimento deste projecto.

O Safari também não tem propriamente sucesso, a Apple não se abriu o 
suficiente à participação da comunidade. E fechou mesmo o browsers 
(embora não o Webkit). O resultado é que o Safari só é usado porque está 
à sombra do sistema operativo.

O Chrome é o outro sucesso que existe, mas convém não esquecer a 
ascendência do Chrome e o momento em que ele surgiu.
Quando foi criado o Chrome as duas hipóteses que o Google colocou para 
motor de renderização do browser foram: Webkit (que é Software Livre) e 
o Gecko (que é o motor do Mozilla Firefox). Ou seja, o código do Chrome 
para além de ser Software Livre (publicado como Chromium), como é um 
derivado de código licenciado como Software Livre. E se não fosse desse 
codigo em especifico teria sido de outro que também é Software Livre.
Quando o Chrome surgiu, o momentum criado inicialmente pela comunidade 
Mozilla, apoiado pela Opera software e pela Apple, para promover uma 
WWW, assente em normas livres e abertas já era tão grande, que já 
ninguém achava uma ideia doida que surgissem outros browsers, que se 
utilizassem outros browsers e que se precisavam de mais browsers de 
qualidade.


Resumindo a WWW que temos agora, em que é possível a quase todos 
introduzirem inovações e utilizar o software que preferem. É o resultado 
das opiniões e da luta daqueles que tu chamas extremistas. E de eles não 
terem capitulado.


Apesar de ser conveniente. Na sociedade em que vivemos. Não dependemos 
da WWW, para ter acesso à maior parte dos conteúdos de entretenimento. E 
já todos vimos o que acontece quando se usa DRM (os nossos direitos são 
violados) e também já vimos as atitudes daqueles que propõem, defendem e 
impõem a utilização de DRM. Assim sendo, não é razoável fazer algum tipo 
de cedência neste assunto, muito pelo contrário!


Também é claro que a Mozilla ao não ter comprometido no passado os seus 
ideais e ao ter sido o maior foco de resistência (no qual a comunidade 
investiu mais). É um motivo razoável para vermos na Mozilla um dos 
pilares da resistência.


Cada vez que algum utilizador escolhe usar DRM, faz com que para todos 
os outros se torne um pouco mais difícil não utilizar. Porquê? Porque 
cada aumenta a base de utilizadores de DRM e assim a sua cada vez 
viabilidade comercial e assim cada vez mais haverão conteúdos em DRM e 
cada vez menos conteúdos sem DRM. Assim sendo, escolher usar DRM, não se 
trata apenas de uma escolha pessoal, que tem implicações apenas para si 
próprio. Pelo que apelo a todos que não adoptem dispositivos com DRM.

Sabiam que quem vê filmes com o seu leitor de DVD, gravados num suporte 
óptico com DRM, em sistemas operativos GNU/Linux está a cometer um crime?
Alguém se lembra de ver à venda um DVD com um filme sem DRM?
O risco que corremos com a aceitação do DRM na web é que deixe de haver 
conteúdo na web sem DRM (em quantidades significativas).

Alguém acredita que a maior parte dos utilizadores actuais de Firefox 
(ou de outros browsers), sabe o que é DRM e tem realmente consciência do 
risco da sua aceitação para eles, para os outros, no presente e no futuro?


Pedir à Mozilla para não adoptar DRM, não significa que, quem estando 
informado sobre os riscos do DRM, quiser escolher livremente utilizar 
DRM, não possa fazer um fork do Mozilla Firefox com suporte para DRM. O 
código do Firefox é livre e as suas licenças permitem que se faça isso 
mesmo. Ou seja, não se está a impedir que isso seja feito. e que quem 
quer que seja seja livre de a escolher.
Provavelmente nem seria necessário fazer um fork, dada a natureza 
técnica do Firefox e do Thunderbird, poderá ser o suficiente fazer uma 
extensão para esses softwares.

O que estou a pedir à Mozilla, é que mais uma vez, faça a escolha certa!

Peço que a Mozilla mantenha-se, como o bastião da liberdade de todos 
aqueles que, criaram a comunidade Mozilla e garantiram continuadamente o 
sucesso e as suas vitórias por acreditarem nos seus ideais. Que sendo já 
mentes esclarecidas eticamente, sabem qual o risco de usar DRM.

Pede-se à Mozilla que faça o que é eticamente correto fazer à sua base 
de utilizadores, que na sua maioria não sabe o que é DRM e que não 
conhece nem tem consciência dos seus riscos. E que por isso é essencial 
que a Mozilla mais uma vez defenda os seus interesses, mantendo a base 
de utilizadores do seu software, quando distribuído com a suas marcas, 
livre do DRM.
As marcas da Mozilla estão associadas aos seus seus valores, aos seus 
ideais e às suas lutas anteriores. Embora seja provável que a maioria 
dos utilizadores do Firefox, não saiba o que é o DRM e os seus riscos. É 
certo que, pelo menos, mais utilizadores, do que aqueles sabem o que é o 
DRM, conheçam pelo os seus valores (mesmo que de forma intuitiva e/ou 
incompleta) e esperam que a Mozilla respeite esses valores.

O que se pede à Mozilla, mais uma vez, exerça a sua liderança na luta, 
pela manutenção de uma WWW livre e aberta para todos.

Não estou a pedir à Mozilla que não permita a utilização de 
implementação de DRM com o seu código, só que não faça ela, com as suas 
marcas.


Estou pedir que a Mozilla respeite os seus ideais e que seja coerente. 
Não é quem espera que isso aconteça que deve procurar alternativas, 
porque esperar isso é justo e razoável.



cumprimentos
Diogo

Em 17-05-2014 14:59, Rui Oliveira escreveu:
> 2014-05-17 12:22 GMT+01:00 Diogo Constantino <diogoconstantino  sapo.pt>:
>
>>
>>
>> Software Livre, é a respeito de liberdade. Ou seja é ideologia. É a
>> liberdade aquilo que na comunidade de Software Livre, prezamos a cima de
>> tudo.
>
>
>
>
> Ou seja, Software livre é respeito pela liberdade, no entanto estás a dizer
> que um utilizador mesmo que queira conscientemente instalar suporte para
> ver conteudo DRM (que a mozilla vai tornar bem claro que o módulo DRM vai
> ser activo), não o pode fazer. Desculpa lá, mas onde está a liberdade do
> utilizador nisso para decidir o que quer? Ninguém deve se colocar como o
> guardião de alguém e decidir perante o que o utilizador no final quer, isso
> é absolutamente ridículo! É o problema do pessoal purista do software
> livre, é demasiado ideologista e não vê o mundo real. Lembra.me um pouco
> sem querer fazer qualquer crítica a quem é militante, a alguns puristas do
> regime comunista que embora tivesse ideias muito interessantes, na prática
> são utópicas e  valem zero!
>
> Se a Mozilla deixar de ter utilizadores, vai deixar de ser relevante.
> Deixando de ser relevante deixar de reunir apoios de outras empresas como
> por exemplo a Google. E depois, és tu e os outros que vão pagar os
> ordenados a quem trabalha na mozilla para defender a liberdade? Bem, me
> parece que não!
>
> Por vezes é preciso recuar e dar um passo de modo a ceder ao que as pessoas
> quererem e decidem. E isso não implica deixar de defender a liberdade.
> Implica sim podererem ver os conteúdos de DRM, e aparecer uma caixa a
> dizer, "atenção isto vai-lhe permitir ver conteudo DRM que atenta contra a
> sua liberdade e tal... saiba mais neste link". Isto é muito mais pedagógico
> e uma forma mais inteligente de ensinar o utilizador dos perigos do DRM.
> Caso contrário o utilizador não se vai dar ao trabalho de por ele procurar
> o que é o DRM. Mas se for informado dessa forma... já pensa duas vezes
>
>   Eu vou ter sempre o módulo DRM desligado, quem quiser que faça o mesmo.
> Além do mais quem não estiver interessado vão surgir builds do firefox sem
> esse módulo (a licença do firefox permite esse tipo de builds). Por isso,
> se não estás satisfeito sugiro-te que uses essas builds. Olha aqui o
> exemplo de uma
>
> https://www.gnu.org/software/gnuzilla/
>



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