[Ubuntu-BR] Avaliando o Lotus Symphony
José Geraldo Gouvêa
jggouvea em gmail.com
Domingo Dezembro 21 21:29:58 UTC 2008
Bem, pessoal, estou compartilhando com vocês minha experiência de dois
dias como utilizador do IBM Lotus Symphony, um conjunto de aplicativos
de escritório desenvolvido pela Big Blue a partir do OpenOffice.org
1.1.5 que tem sido propalado como "a" tentativa da IBM de voltar ao
mercado de software para computadores pessoais.
Em primeiro lugar, cabe ressaltar que o Lotus Symphony não é "free
software", mas software proprietário, de código fechadíssimo e sujeito a
uma licença de uso muitíssimo restrita. Só que ele agora é freeware e
vem empacotado para o Ubuntu Hardy Heron 8.04 LTS -- razão pela qual me
animei a testá-lo, já que praticamente ninguém o fez para contar a
história.
O tamanho do download assusta. Os arquivos básicos têm 175 MB e a
localização em português do Brasil, que inclui alguns templates, os
arquivos de ajuda e a tradução da interface, são outros 100 MB!!!!
Terminado o download, a instalação pode ser feita via gdebi-gtk, o que é
um conforto. Todas as dependências estavam satisfeitas no meu sistema e
eu desconfio que isto é porque a IBM empacotou tudo que precisava,
recorrendo a muito poucas bibliotecas compartilhadas (daí o tamanho do
download). Durante a instalação eu percebi que o Lotus Symphony,
aparentemente, é todo escrito em Java utilizando o ambiente de
desenvolvimento Eclipse. Para um programa tão grande e complexo escrito
em Java ele roda muito rápido (mas isso não quer dizer que ele rode
rápido, me entendam). Dentro da pasta /opt/ibm/lotus/symphony/framework
tudo que você vê é uma árvore de diretórios do eclipse cheia de JARs e
outros arquivos variados. Aparentemente, o Symphony inclui seu próprio
ambiente java e uma distribuição do Jakarta.
O que vem no pacote? Muito pouco para um programa que pretende
revolucionar o mundo do software e trazer de volta do mundo dos mortos a
Big Blue. Um editor de textos de interface agradável, algo semelhante à
do MS Office 2007, um editor de apresentações de interface sensivelmente
mais simples que o OO Impress ou o Power Point e uma planilha, que quase
não cheguei a usar. Junto com ele não vem nenhum modelo de documento e
apenas as fontes TrueType Monotype Sans WT, Monotype Sans WT Duospace e
Thorndale Duospace WT. A última é bastante interessante, pois embora
seja monoespaçada, ela tem uma elegância que a torna bem leve para ler.
Gostaria de usá-la em algum livro.
Por padrão (algo que eu positivamente não gostei) o Symphony seqüestrou
para si a associação dos arquivos .sx* e .od*.
A interface do Lotus Symphony é bastante confusa para mim, que nunca
usei MS Office. Acreditem, pessoas, meu primeiro aplicativo de
escritório foi o StarOffice e depois migrei para o OpenOffice 1.0 e
nunca mais usei coisa alguma, nem mesmo consegui usar Abiword+Gnumeric e
nem KOffice -- embora tenha tentado. Pelo que percebi, no entanto, ela
não é exatamente "semelhante à do MS Office 2007", o que pode significar
que ela será difícil para quem vem do ambiente Windows + Office também.
Vamos agora a uma lista objetiva e resumida de prós (>) e contras (<):
> O Symphony usa uma interface MDI do tipo com abas, o que é muito legal
se você está trabalhando com vários textos simultaneamente. +1000 pontos
por isso.
> integra o gtk-mozembed na mesma janela do aplicativo, permitindo que
você copie e cole de uma página da Web ou que passe a editá-la. +300
pontos por isso.
> Pela mesma razão fica mais fácil você trabalhar em um documetno
enquanto navega na Web. Esta feature é muito legal para mim
especificamente. + 200 pontos
< infelizmente ele não permite salvar de volta a página através da rede.
-100 pontos.
< o programa travou comigo várias vezes, mesmo sendo uma versão chamada
de "estável" (1.2). Em nenhuma das vezes ele salvou os arquivos, como o
OpenOffice faz. -1200 pontos.
< A renderização de fontes é um problema sério para um programa
proprietário e tão cheio de segredos. A qualidade das fontes é sofrível,
mesmo em comparação com o OpenOffice3 que implantou hinting nativo e
desabilitou anti-aliasing (duas mudanças que detestei porque fazem o
texto ficar ilegível, como no Windows). Além de fontes ligeiramente
borradas, o Symphony ainda deforma os caracteres das fontes em negrito,
como se ele quisesse forçar as letras em negrito (que são mais "gordas")
dentro da mesma caixa que as letras normais. É virtualmente inviável
usar fontes em negrito no Symphony. -500 pontos.
> Porém a simulação de itálico funciona tão bem que você quase não
percebe que fontes bem desenhadas, como Monotype Sans ou Tahoma, na
verdade não têm itálico... +100 pontos
< O Symphony é significativamente mais lento que o OpenOffice3. Não o
suficiente para inviabilizar o seu uso por mim, mas indicativo de que
algo não vai bem com o código, que se torna mais instável à medida em
que você o usa. -200 pontos.
< Da primeira vez que você usa o programa ele demora quase três minutos
se configurando antes de iniciar e você não tem nenhum feedback. -150
pontos.
< É preciso registrar-se e concordar com uma licença absurda para fazer
o Download. -100 pontos
< Não é possível personalizar as cores da interface (um azul desmaiado),
o que causa incompatibilidade com seu tema de desktop. -100 pontos
> O Symphony possui uma Wiki e um repositório de plug-ins no site da
IBM, o acesso ambos é liberado para todos que usam o programa. + 200
pontos.
< Mas até o momento a quantidade de artigos e de plug-ins é
insignificante. -150 pontos.
< A licença das duas fontes que ele instala não é clara -- de modo que
você não sabe se pode usá-las em outro programa ou mesmo se pode
incorporá-las em um PDF.
Meu veredito: a menos que você realmente odeie o OpenOffice, não há
nenhuma razão objetivamente significativa para trocá-lo pelo Symphony.
Ele é, definitivamente, um produto para os ambientes corporativos da IBM
e provavelmente nunca vingará.
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