[Ubuntu-BR] Flame War proposital, leia se quiser (ERA: Foco no Nautilus quando em quickstart do openoffice)
Paulino Michelazzo
listas em michelazzo.com.br
Domingo Setembro 24 07:55:35 UTC 2006
Olá pessoas,
Para deixar o domingo mais interessante, vou colocar um pouco mais de visão
pragmática no assunto e um pouco de história, além de tentar responder todas
as mensagens em uma só. Somente peço que me perdoem por alguns error de
digitação e pela demora de resposta. Abri uma valeta em um dos dedos num
acidente doméstico e estou tendo que catar milho ;) Aproveito também para
dizer: a mensagem é longa (estou inspirado logo às 3 da manhã) mas acho que
vale a pena.
Há muito tempo deixei de ser radical dentro da comunidade de software livre.
Alguns dizem que é o efeito "Lula paz e amor", outros dizem que "abichanei"
e outros ainda dizem que minha mudança para a praia me amoleceu. Nenhuma
delas é verdade. O que aconteceu realmente foi que não mais é necessário
descer o tacape em ninguém e por isso acabo usando as energias para fazer
outras coisas (veio a velhinha do microonda Sharp na lembrança agora).
Quando mergulhei de cabeça no Software Livre (2000), precisávamos de pessoas
que batessem de frente com o status-quo e prontamente, devido a fervura de
meu sangue italiano, me ofereci para tal. Foram tempos complicados.
Brigávamos dentro de Assembléias Legislativas (onde uma vez quase sai na
pancada com um CIO), em eventos no mundo todo, em mesas-redondas, escolas,
universidades e assim por diante. O mote era: "somos melhores e o software
proprietário é o inferno na terra, capitaneado pelo demo Microsoft".
Naquela época isso era necessário pois do outro lado éramos ditos como
"comunistas" (como se SL tivesse modelo social), de xiitas, de "câncer"
(palavras de Steve Ballmer) e outras coisas mais. Diziam que nossa
comunidade não ia para frente pois era financeiramente insustentável (uma
meia verdade) e de uma anarquia organizada (uma ambiguidade fenomenal). Mas
enfim, nós acreditávamos que estávamos certos e o tempo mostrou que sem
estas passagens, não teríamos chegando onde chegamos e certamente eu não
estaria escrevendo este e-mail, até porque o Mark iria inventar outra coisa
para fazer com seus milhões.
Hoje o cenário é muito diferente. As pessoas "sabem" o que é Linux. As
pessoas "sabem" o que é software livre. Se quiser fazer um teste, ande pelas
ruas de São Paulo e pergunte para as pessoas se já ouviram "um tal de
Linux". Muitos continuam a margem não só disso, mas da vida (se preocupam
mais com "popozões" que outra coisa), mas certamente uma grande parte irá
falar pelo menos um "já ouvi". Isso se deve ao bando de loucos que em anos
passados deram a cara para bater (inclusive literalmente), perderam emprego
(meu caso) ou ainda se alienaram de muita coisa para que o movimento tomasse
corpo e chegasse onde está hoje.
Não mais precisamos "bater". Há alguns dias fui convidado para um evento em
Minas que é uma mesa-redonda com um tema que sempre gostei: Linux x Windows.
O que vou fazer lá? Simplesmente deixar o povo do Windows com as calças no
chão. Não preciso de muito para tal. "Get the facts" agora está do nosso
lado pois é só citar umas 10 empresas mundiais que usam globalmente o SO
para o caldo entornar. Isso sem contar com as milhares de atividades sociais
que ele propicia, principalmente em países de terceiro mundo (em
desenvolvimento uma pinóia), facilidade de uso, Internet, etc etc etc.
Então, para quê vou gastar meus neurônios brigando com um dono de empresa
que acredita ser o Windows a última coca-cola do deserto? Eu não. É o
negócio dele que está em jogo, não o meu. Se ele quer continuar pagando
licença ou pirateando, o problema é dele. É na porta dele que a ABES vai
bater, não na minha. Quando isso acontecer ou ele observar mais traços
vermelhos em sua planilha de custos, irá pensar com carinho sobre os nerds.
Tão simples como o timão perder mais uma :)
Nosso foco hoje é outro. Devemos muito tratar com carinho os usuários que
estão chegando. Eles precisam de nosso apoio pois não possuem uma base
sedimentada sobre o assunto e tampouco o medo da ABES em seu pé. Para eles,
piratear um Windows é só ir na barraquinha do camelô da esquina e resolver o
problema. Só que esta massa é muito importante pois ela representa não só
uma fatia grande de consumidores, mas uma parcela inimaginável de formadores
de opinião. Então, se temos eles do nosso lado, ganhamos o jogo.
Mas como fazer isso? Existem dezenas de métodos que podemos escolher, tais
como:
- Enfiar uma arma na cabeça do sujeito. Não gosto muito da idéia mas em
certos países pode funcionar.
- Baixar um decreto. Também não gosto da idéia. Liberdade está acima de tudo
em meu ponto de vista.
- Continuar dizendo que Windows é uma droga e nós somos fodões. Desculpe,
mas este discurso nem meu pequeno engole mais. Tá batido
- Vender máquina com Linux instalado. Hmm, pode ser que ajude mas o PC
Conectado/Computador para Todos/ Computador do PT/etc provou que não é bem
por ai.
- Fazer a lição de casa e ajudar na decisão do usuário, sem forçar. Opa!,
uma opção interessante. Mas... como seria isso?
Parte desta opção está sendo feita pelo Ubuntu. Desculpem-me os fãs e nerds
do Debian mas este SO é de lascar. Comento sempre que Debian é para quem não
tem namorada ou tem um tribufu tão feio que é melhor ficar na frente do
micro do que dormir com ela. Outras distros então, nem se fala. Se comentar
de Slackware e Gentoo aqui, é capaz de ser assassinado na primeira esquina.
O Ubuntu veio com uma proposta muito interessante: "Seres Humanos". Linda,
maravilhosa inclusive em seu nome que para mim é mais que o nome de uma
distro. É uma palavra que já conhecia e usada por algumas pessoas para dizer
que fulano de tal é simplesmente o que há de mais humano possível. Simples
de instalar (para um semi-nerd), simples de usar (para quem tem dois
neurônios), simples para tudo.
Mas.... (sempre tem um não?), ele peca onde o Windows ganha por W.O.
Documentação (calma! contenham-se). De nada adianta uma farta documentação
como ele tem se é um porre lascado achar qualquer coisa. A diversividade é
tão grande, mas tão grande que se torna inútil muitas vezes. Um exemplo
simples disso é: meu notebook não sai 1280x1024 na saída externa nem por
decreto e no Windows sai. Já virei, já perguntei, já fiz o diabo e ninguém é
capaz de dizer: não funciona! Nem isso sabem dizer, ou seja, um excesso de
informações resultando que uma simples resposta negativa é tão burocrática
quanto uma pensão do INSS.
O Renato tocou em um ponto interessante que vale um comentário mais profundo
que é aquele que "os usuários Windows querem estórias em quadrinhos". Sim,
claro que querem. Não só eles como eu quero! Na verdade eu quero mais que
isso. Gostaria de colocar um CD no meu notebook e ele, como um passe de
mágica achasse todo o meu hardware, configurasse, conectasse na Internet,
fizesse a atualização de tudo, instalasse os pacotes necessários para minha
atividade, configurasse meu MSN, ICQ, Yahoo, torrent, etc, removesse o que
não preciso e, no final, ainda aparecesse um filme da Angelina Jolie em
tórridas cenas numa praia paradisíaca de qualquer lugar do Pacífico. Como
isso? Com uma única pergunta: o que você faz da vida?
Honestamente, sou um adepto de DeMasi. O tempo que tenho não é para ficar
configurando na mão uma porcaria de wireless que não quer rodar. Eu quero
espetar a placa e o dito cujo sair mostrando as notícias do Estadão para
mim. Da mesma forma, sonho no dia que terei uma TV onde, ao invés de usá-la
só para ver DVD, eu possa, por exemplo, ver uma mensagem importante de minha
caixa postal num aviso na tela ou ainda ler um SMS que foi enviado para meu
celular. Tudo isso sem sair do meu puff e sem parar de coçar minha pança
(melhor ainda se eu puder dar um pause no DVD e comprar cigarros que serão
entregues em inha casa dali 10 minutos).
Louco? Não sou não. Somente vivo muito diferente da maioria. Por estar hoje
distante 10 minutos das mais tranquilas praias que um ser humano pode ter,
prefiro "perder" meu tempo caminhando na orla e pensando no que vou aprontar
do que ficar compilando um kernel. Tudo bem, tem gente que ama isso e não
julgo. Cada um é cada um mas quem compila um kernel tem esta opção para se
regojizar. E eu que não quero, mas quero que a máquina pense por mim? Por
quê não tenho esta opção???
A questão do Renato é interessante por um outro ponto quando ele diz: "Não
os condeno por isto, apenas cito por ser uma visão diametralmente oposta aos
que usam linux defendem." Este é o problema dentro da comunidade de SL. Ela
se fechou para seu umbigo e não quer saber que existe vida fora de seu
habitat. Também não condeno a visão da comunidade. O que condeno é ela ter
SÓ ESTA visão. Ou seja, são tão tapados quanto os usuários de Windows. Nós
que defendemos a liberdade, deveríamos ser flexíveis ao ponto de ter TODAS
as opções e não somente a opção do "te vira". Isso acaba com aqueles que
estão chegando e também com os que já estão pois, em um momento, agora ou
mais tarde, vão ficar de saco cheio e criar uma visão mais pragmática do
contexto.
A Microsoft é muito boa em marketing (como bem lembrou o Saulo). Tanto é
verdade que ela vende lixo para quase todos os países do mundo e eles
compram!!! Quer marketing melhor que esse? Só das fábricas de cigarros.
Desta sua força, ao invés de aproveitarmos, nos afastamos dela. Citando Szu
Tsu (que não gosto), temos que conhecer nosso inimigo muito bem e, em muitas
vezes, usar das mesmas armas para ganhar a batalha. Numa outra citação (não
dele), "o inimigo de meu inimigo é meu amigo", ou seja, o marketing da
Microsoft é seu ponto forte e ao mesmo o ponto fraco. Se usarmos este
inimigo deles em nosso favor, fazemos com que seja proveitoso para nós. Um
exemplo: a campanha Get The Facts que já virou piada nas rodas de CIO's em
todo o mundo. Se é para mostrar "fatos", vamos à eles.
Qual a única organização/projeto de software livre que dá um banho de
marketing? Mozilla Firefox. E aqueles que não acreditam no que eu falo
quando bato na tecla de marketing, vejam os números de usuários deste
browser no último ano. Crescem mês a mês fazendo a toda-poderosa vibrar como
vara verde. Mas, por quê só eles? O que falta para nós? Dinheiro somente ou
um pouco de "desnerdização" do processo?
Mas voltando ao ponto da documentação. A nossa peca quando não temos
atrativo "a mais" para os usuários. Se alguém aqui, como eu, é certificado
Microsoft, sabe bem do que falo. Você entra em um curso oficial, recebe um
baita material super bonitinho, arrumadinho, com CD cheio de vídeos, etc etc
etc. Até mesmo o certificado dá vontade de colocar na parede. O mesmo
acontece com a IBM, a Oracle e a Macromedia (nem falo da Adobe pq é falta de
educação o material deles). Em contrapartida, vamos em um curso de Linux
e... bem, é ir para ver o que falo. Tosco é um adjetivo simplório perto do
que já vi por este país.
"Ahhhh, mas usuário Linux não quer saber disso!!!!" Pois eu digo: 'não
cometa o erro de achar que o que você não quer é regra para todos". Eu
conheço muita gente que se orgulha de colocar o logo do LPI em seu cartão de
visitas e outras tantas que dizem com o peito cheio: "sou RHCE". Para
alguns, uma bela bosta, mas para outros, um diferencial gigantesco.
Poucas são as opções e menores ainda são as boas opções. Se procurarmos uma
informação sobre determinado parâmetro, temos tanta informação que o coitado
que necessita dela brocha. Duvida? Então olhe um "man" de um comando ls. São
pelo menos 180 linhas de parâmetros, opções e coisas do tipo. Sinceramente,
quantos aqui usam todas elas? Quantos aqui já usaram mais que 10 opções? 5?
É tão prolixa que peca.
Então, em minha visão pragmática, temos alguns desafios pela frente:
1) Criar informação valiosa para o usuário. Qualidade nada tem a ver com
quantidade
2) Apresentar a informação de forma atrativa, isto é, ter as opções que
temos hoje mas acrescentar outras mais "modernas", mais simples e mais
interativas
3) Deixarmos de olhar somente para nosso umbigo e entender que existe vida
inteligente lá fora (não muita, mas tem).
Com passos assim aliados com as facilidades que as distros hoje possuem
(principalmente o Ubuntu) mais o avanço da tecnologia, honestamente, daqui
há alguns anos quando eu contar histórias do que foi o software livre em
nosso país no final do século passado, vão dizer que eu vivia drogado pois
será impossível acreditar.
Finalmente, peço uma reflexão nos pontos comentados. Não estou aqui para
defender a MS e seu modelo. Pelo contrário. Eu já trabalhei lá e já senti a
mão forte deles em cima de mim. Abomino-os. Mas, fatos são fatos: são bons
em verder lixo. Então, pensem vocês se nós, que não fazemos lixo, fizermos
um pouco da lição de casa, onde vamos parar? Em minha opinião, instalaremos
SL no micro de Deus e faremos o upgrade do micro do demônio.
É acreditar, pensar e executar. Coçar só não vai funcionar. E que neste dia
que é lembrado pelos peruanos a morte de Tupac Amaru, que os ventos de
liberdade dos Andes soprem à nosso favor.
(nussa, falei hein!).
Abraços à todos e bom domingo!
PS: Saulo, como pediu, segue o link do tutorial:
http://www.noritmodomambo.org/docs/index.php/Tutoriais_Multim%C3%ADdia
Abraços
--
Paulino Michelazzo
http://www.fabricalivre.com.br
Mobile Phone: +55 11 7693-1838
São Paulo/SP: +55 11 3717-2386
João Pessoa/PB: +55 83 3235-4386
More information about the ubuntu-br
mailing list