[Ubuntu-BR] Ubuntu nas universidades públicas

Andre Cavalcante andre.d.cavalcante em gmail.com
Quarta Abril 8 12:44:04 UTC 2009


Olá Luciano, que iniciou a discussão, e a todos os outros...

Também sou Professor, mas de Engenharia Elétrica em uma Universidade Pública.
Olha só, isso que você falou é que me deixa um tanto preocupado.

Entendo claramente que a "função" atual da Universidade Particular,
dadas as conversas que tive desde o último COBENGE e dado que as
faculdades particulares já somam quase 80% do público alvo no Brasil
para o curso superior, seja de preparar o aluno (odeio esse termo,
simplesmente porque ninguém é tão "sem luz" assim, principalmente em
um curso superior, mas ...) para o mercado de trabalho.

Mas o que me deixa preocupado é o fato de que isso muitas vezes é
justificativa para não se olhar para frente! O objetivo primário de
qualquer "Universidade" seja ela pública ou privada é dar um
"conhecimento universal" às pessoas que a procuram em sua respectiva
área e atuação. E mais, que este conhecimento não seja vinculado ou,
ao menos, não esteja preso à técnica então estabelecida, porque, no
futuro, a técnica ou e estado da arte irá mudar, enquanto que o
conhecimento básico dos princípios daquela ciência, o funcionamento de
determinado fenômeno etc. estes deveriam ser "perenes" ou, ao menos
duradouros...

Vou dar uns exemplos bem dentro da minha área: no início eram PCBs
camada simples ou duplas que eram fabricadas com máscaras produzidas
com técnicas de serigrafia (normalmente manual mesmo) e corrosão
química. Depois vieram as camadas múltiplas e o uso de componentes
SMD; agora as PCBs  são fabricadas como se fossem chips: múltiplas
camadas e cada camada com técnicas de serigrafia e tratamento químico
com metalização à vácuo, totalmente automatizadas, para dispositivos
com tecnologia ball grid array. Essas tecnologias tem uma vida média
de 10 anos. Se eu tivesse ensinado a primeira técnica aos meus alunos
a uns 8 anos atrás eles estariam completamente fora do mercado. Para
completar o exemplo, vejamos o caso das ferramentas de software para
produção de PCBs: antes eram CADs normais, tipo autocad, no DOS mesmo.
Agora os programas mais comuns são no windows e já estão bem longe do
autocad, pois são CADs específicos para PCBs, mas os sistemas mais
avançados estão em plataformas de trabalho bem porrudas, tipo
workstation solaris e unix like (linux inclusive), como se pode ver no
Mentor (que tem versão windows, mas apenas o front-end). Imagina se a
gente só utilizar ferramentas para Windows em nossos cursos (e
infelizmente é isso que tá acontecendo)! O aluno ficará simplesmente
fora do mercado mais valorizado, que o de PCBs de alto
nível/avançadas, tecnologias estas que estão no mercado médio, onde a
maioria irá atuar, daqui uns 10 anos.

Bem, acho que com o exemplo o MEU ponto de vista ficou claro (e como é
meu então vale tanto quanto qualquer outro, não quero fazer disso um
cavalo de batalhas!) .

Vou fazer algumas considerações, igualmente pessoais sobre o e-mail do
Fabiano, pelo simples fato de que ambos somos professores e o assunto,
acredito, interessa a ambos (mais uma vez, não penso em flames, mas em
uma discussão saudável).

2009/4/7 Gerson Barreiros <fserve em gmail.com>:
> 2009/4/7 Fabiano Caçador <fabianoscacador em gmail.com>
>
>> Olá Luciano,
>>
>> Sou professor, administrador da rede e co-administrador do parque
>> tecnológico de uma faculdade particular, portanto vou emitir minha opinião
>> embasada nos anos que tenho de trabalho e vivência.
>>
>> Bom, temos aqui 11 laboratórios de ensino com micros com os 2 sistemas,
>> tanto o Windows (XP, adquirido com licença MSDNAA, uma aliança acadêmica
>> com
>> a Microsoft, licenças saem a preço reduzido, por um prazo finito por
>> contrato que pode ser de 1 a 3 anos, renovável ) quanto o Linux, no caso
>> Ubuntu 8.10

Em nossos laboratório, o Windows domina. Há um pragmatismo em termos
de uso de ferramentas, como expus acima. E acaba, em meu ponto de
vista, que o curso se torna um curso da ferramenta e não da tecnologia
e/ou da ciência.

>>
>> Acho válido e interessantíssimo o uso do Linux como sistema de determinadas
>> disciplinas, tais como redes, arquitetura de computadores entre outras.
>> Porém, não se pode restringir o campo de atuação de um aluno, um futuro
>> profissional, a plataforma de software livre. Deve-se buscar as
>> alternativas
>> "em alta no mercado". Preparar este aluno para o ambiente competitivo e
>> dinâmico que virá. E em determinadas áreas, o Windows domina !
>>
>> Exemplo: Em termos de mercado, Dreamweaver domina o Desenvolvimento Web.
>> Então, mesmo que queiramos adotar outro software, estaríamos indo de
>> encontro a uma realidade, e consequentemente enfraquecendo o curso, até no
>> seu próprio marketing interno.

É aqui que vejo que às vezes estamos no caminho errado. Não deveríamos
preparar o aluno para "usar" o dreamweaver, apesar de poder ser ele
(já que é dominante no mercado) a ferramenta de escolha, mas
deveríamos ensinar Web para os alunos no sentido mais amplo possível,
para que ele pudesse sim usar dream, mas também qualquer outra
ferramenta. Centrar na ferramenta é que considero um erro.

>>
>> É verdade que existem esforços para adaptar o conteúdo programático das
>> disciplinas às opções de software livre na Instituição, mas isto depende do
>> mercado.

Existem casos que é o contrário, sem ferramentas open source seria
impossível se dar o curso, exemplo: sistemas operacionais de tempo
real!

>>
>> Caso se interesse, há uma pós-graduação em Lavras (UFLA), toda baseada no
>> Software Livre.
>>
>> Entendo sua preocupação quanto ao perfil do alunado em geral, e acho que
>> este será o seu diferencial para com os outros, porém, sendo franco, é
>> preciso uma reforma no modelo pedagógico para que estes alunos se motivem a
>> estudar mais.

Não só no modelo pedagógico mas em todo o sistema educacional de nosso
país, tanto na educação básica quanto nos demais níveis (superior
então nem se fala: pegar neguinho que vem do segundo grau e não sabe o
que uma função quadrática é dose! como querer que ele aprenda
derivação e integração?!)

>> Um bom início seria a imediata criação de grupos de estudo focados no
>> linux,
>> projetos de pesquisa e etc...
>>
>> Bom, é isso :)
>>

>> > penso que deveria ser usado Linux pelo menos nos computadores dos
>> > laboratórios. O professor que cuida dos laboratórios veio explicar para a
>> > turma que estes estiveram fechados por um tempo maior que o esperado
>> devido
>> > a carência de tempo para reinstalar o Windows, que estava bem arruinado
>> nos
>> > computadores (vírus, etc). Se estivesse sendo usado Linux, não estaria
>> > acontecendo esse problema toda, e provavelmente não seria preciso
>> > reinstalar
>> > o sistema todo semestre.

Bem, esse problema não é só das Universidades, se bem que elas sentem
mais, porque os computadores devem ser mais livres para os alunos
experimentarem, e um único computador acaba sendo usado por muitas
pessoas, mas as empresas também passam por esse tipo de dificuldade.
Olhe só, para o gerente de TI mais esperto um pouco, se ele levar em
consideração também essas questões de TCO, sempre há espaço para o
Linux. Já vi um caso em que um Unix rodou em uma empresa por 4 anos
seguidos e nunca foi feito um reboot. Claro, quando foi desligado foi
para aposentar a máquina! Os caras do CPD que ficaram responsáveis por
fazer essa tarefa, nem ao menos sabiam o que fazer para desligar o
sistema (todos, sem exceção, foram contratados depois do servidor em
pé e ele simplesmente não dava pau: custo de manutenção = 0, e todos
eram especialistas Windows, inclusive eu na época).

>> > Até mais.
>> > Luciano Santos
>> > --

>
> Tenho nada contra a instalação de Windows ORIGINAL nos laboratórios das
> faculdades.
>
> O triste na verdade não é linux/windows é ter gente com mente fechada, hoje
> nota-se a evolução crescente do Linux em vários setores, desktop, mobile,
> servidores e tal, mas ao mesmo tempo, não podemos nos limitar a isso, temos
> iphones no mercado rodando OSX por exemplo, N97 rodando Symbian, s.o é
> apenas um s.o e não deve ser nada além disso... Uma interface do usuário com
> o hardware, e para um aluno de computação, se travar apenas num S.O, é muito
> ruim.

Agora só pra provocar (olha aí felipe, masi lenha pros trolls): me
digam o nome de uma tecnologia que a microsoft tenha inventado e que
ainda não existia no mundo o open source? Não vale aquelas tecnologias
que na verdade são só nome diferente porque é política da MS não usar
nada aberto. Exemplo: CHM - uma web de páginas HTML compactadas, com
um mecanismo de busca implícita e que é usada para criação de ajudas
on-line - nada que uma Web pura (zip, tar, dar)eada não resolvesse.

-- 
André Cavalcante
Porto Alegre, RS.
Ubuntu User number # 24370




More information about the ubuntu-br mailing list