[Ubuntu-BR] O Linux se rende ao mercado

Clóvis Alberto clovis.as em gmail.com
Quarta Abril 25 18:29:57 UTC 2007


Flávio Araújo escreveu:
> Nascido como um sistema alternativo, o programa tornou-se fonte de receitas
> para fornecedores tradicionais.
>
> Há um adágio segundo o qual quem nunca foi comunista na juventude não tem
> coração, mas quem continua comunista depois da maturidade não tem razão. O
> provérbio é controverso, mas parece ser seguido à risca no setor de
> software. É o que sugere a história do Linux, sistema criado no início dos
> anos 90 que se diferencia por não cobrar licenças de uso e permitir que seu
> código-fonte seja livremente copiado e modificado. Com essa proposta, o
> Linux caiu no gosto de programadores espalhados pelos quatro cantos do
> mundo. Trabalhando de forma voluntária, com o reconhecimento intelectual
> como única recompensa, essa comunidade aprimora constantemente o sistema. O
> apoio dessa turma é tão entusiasmado que por vezes ganha contornos
> ideológicos. Alguns parecem acreditar que o programa libertará o mundo da
> ganância dos fornecedores tradicionais, cuja maior imagem é a Microsoft. O
> Linux seria o principal representante de uma espécie de socialismo dos bits.
> Ironicamente, o crescente sucesso que o produto vem conquistando se deve
> justamente à sua conversão ao mercado.
>
> Saem os jovens programadores trajando bermudas e tênis, entram os executivos
> engravatados. Alguns dos maiores e mais tradicionais fornecedores de
> tecnologia, como IBM, Oracle e HP, abraçaram o Linux e gradativamente o
> colocaram no centro de suas estratégias. Essas empresas estão faturando alto
> com o sistema que outrora se apresentava como alternativa ao status quo do
> mercado tecnológico. É verdade que o Linux nem sequer arranha a supremacia
> do Windows nos computadores pessoais. Mas já é uma séria alternativa para
> servidores, os grandes computadores que controlam as redes corporativas. A
> consultoria IDC estima que o conjunto de produtos e serviços que gravitam ao
> redor do Linux vá gerar 35 bilhões de dólares mundialmente em 2008. No
> Brasil, dos 850 milhões de dólares que a venda de servidores movimentou em
> 2006, cerca de 12% vieram de negócios envolvendo máquinas munidas com o
> sistema que tem o pingüim como símbolo. No começo da década, esse número era
> apenas 2%. Um estudo da Fundação Getulio Var gas mostra que mais de 16% dos
> servidores instalados nas empresas nacionais rodam Linux -- participação que
> aumenta a cada ano. "Grandes fornecedoras que competem com a Microsoft em
> vários mercados precisavam de uma alternativa", diz Fernando Meirelles, da
> FGV. "Elas têm interesse estratégico e legítimo de apoiar o Linux."
>
> E é exatamente o que estão fazendo. Atualmente, todos os equipamentos que a
> IBM vende são adaptados para o sistema de código aberto. Além disso, mais de
> 700 softwares que a companhia desenvolve, desde banco de dados até programas
> de e-mail, rodam sobre o sistema operacional. "O Linux tornou-se um dos
> eixos centrais da atuação da IBM", diz Haroldo Hoffmann, diretor de
> iniciativas estratégicas da Big Blue. A Oracle segue uma tática semelhante.
> A companhia apóia o Linux desde 1998, por orientação direta de seu
> executivo-chefe, Larry Ellison. "No último ano fiscal, ultrapassamos a marca
> de 1 bilhão de dólares em receitas de produtos e serviços relacionados ao
> Linux", diz Luiz Meisler, vice-presidente sênior da Oracle para a América
> Latina.
>
> À primeira vista, parece natural supor que a conta nunca vai fechar para
> fornecedores que trabalham com um produto conhecido justamente por ser
> entregue de graça. Natural -- e equivocado. O Linux é realmente oferecido
> sem cobrar a tradicional licença de uso. Mas o fato é que um sistema
> operacional não significa nada sozinho e representa apenas uma fração dos
> custos totais de grandes projetos de tecnologia nas empresas -- que também
> incluem o apoio de uma consultoria, compra de máquinas e acordos de
> assistência técnica. Uma fornecedora como a IBM fatura alto com cada um
> desses itens. A conta fecha -- e geralmente com muitos zeros à direita.
>
> A comunidade do Linux também ganha com isso. Sua disseminação no ambiente
> empresarial deve-se a esse apoio de grandes fornecedores. Petrobras, Casas
> Bahia e Itautec -- para ficar só em casos brasileiros -- não adotaram a
> tecnologia só por suas qualidades técnicas. É fundamental ter um contrato de
> instalação, suporte e atualização com um prestador de serviços confiável,
> que não vai desaparecer do dia para a noite. Da mesma forma, é preciso uma
> ampla oferta de software e máquinas preparadas para trabalhar num ambiente
> de Linux. As fornecedoras tradicionais de tecnologia garantem essas
> condições. Algumas fizeram ainda mais: a Oracle, por exemplo, realizou nos
> últimos anos uma migração completa dos sistemas que garantem seu próprio
> funcionamento para Linux. "Somos uma vitrine do sucesso do Linux", diz
> Meisler. Hoje, todos os 12 000 servidores da companhia, que emprega 75 000
> pessoas, rodam o software livre. Nada mau para um programa que, em sua
> juventude, pretendia ser a esquerda do mercado de tecnologia. Que diferença
> fazem alguns cabelos brancos.
>
>
>   


Uma pergunta não me sai da cabeça:

"O linux se rendeu ao mercado ou o mercado corporativo abriu os braços 
para o linux?"


Saudações






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